sábado, agosto 30, 2008

Canjica

(foto daqui)

Ainda na sequência do Intercâmbio Culinário e da parceria que fizemos com a Márcia, quisemos também fazer canjica.
Esta já não é novidade na nossa casa porque a vovó Nair costumava fazer sempre na Páscoa, 6ª Feira Santa. Já era costume assim na casa dos pais dela e habituámo-nos a ouvi-la dizer que por causa do jejum (??), precisávamos de ter à mão qualquer coisa mais forte para comer. E aí vinha a canjica!
Aqui em Portugal não é conhecido... aliás o milho branco, só mais recentemente tem sido utilizado, por causa da culinária africana que tem tido, nos últimos anos uma grande divulgação por aqui.

Também ficamos curiosos em saber mais qualquer coisa sobre a designação "canjica".
Ficamos a saber aqui que nos estados de São Paulo, Mato Grosso e Goiás, pode chamar-se “curau”, e que no Rio de Janeiro encontra-se também como “canjiquinha” e, em Minas Gerais, como “papa de milho”. Será? Pensávamos que "curau" era feito com milho verde e não milho branco, como a canjica que conheço!
Também vi que se pode chamar de mugunzá! Realmente não há dúvidas que a comida vai se adaptando às diferentes regiões em que é utilizada e vai ganhando nomes e versões diferentes. Que riqueza!
Quem tiver mais informações que esclareça!

Parece também que o termo canjica vem do quimbundo africano - língua falada pela tribo dos bantos de Angola- Kanjika. Outros dizem que a palavra vem do malaiala - idioma de Malabar, região da Ásia – Kanji, significando “arroz com água”.

Parece ter sido costume, nas mesas da gente do Rio do Janeiro (mesmo antes da chegada da corte portuguesa ao Brasil, no início de 1800) ter quase sempre como sobremesa a canjica temperada com açúcar.

E olhem só as expressões que também são utilizadas:

“Pôr fogo na canjica”para apressar, animar. Ou “Socar canjica” para andar a cavalo, em trote, sem amortecer o choque do corpo na sela. No Rio Grande do Sul, estar, viver ou andar “com as canjicas de fora” significa rir.
Não é o máximo?

Agora a receita:

Precisa de

- 1/2 kg de canjica (milho branco)
- açúcar a gosto
- sal q.b.
- 1/2 litro de leite (pode precisar de mais um pouco)
- 1/2 colheres (sopa) de manteiga
- 2 paus de canela
- 1 vidro de leite de côco (há quem não utilize, mas lembro que a vovó colocava sempre)

- canela em pó para polvilhar
- também fica bom amendoim torrado e moído (era assim que comíamos em S. Lourenço, quando íamos de férias, para casa da tia Lourdes e do tio Zeca - que saudades!).

Fizemos assim:

Na véspera colocamos o milho de molho.
No dia pusemos a cozinhar, com uma pedrinha de sal (a água deve só cobrir), em fogo lento (o processo é o utilizado para o arroz dôce); pode utilizar a panela de pressão.
Quando estiver macio juntar a canela em pau, o leite e deixar apurar, cozendo lentamente, juntando o leite necessário para ficar bem cremoso.
Quase no final, juntar açúcar a gosto, o leite de côco e a manteiga. Deixar ferver mais um pouco para apurar (atenção: sempre fogo baixo, mexendo, com cuidado para não queimar).

E pronto...
Lá em casa ficava mesmo na panela e cada um ia se servindo, polvilhando com canela e/ou amendoím moído ou côco ralado.
Uns gostavam de comer ainda quente... eu preferia frio... a vovó dizia que no dia seguinte ainda era melhor.
Convém guardar no frigorífico porque pode azedar.
E pode voltar outra vez ao fogo, juntando-se mais leite para voltar a ferver e acrescentar o molho.

mais uma receita... e assim vamos passando, de "boca em boca", trocando-se sabores e memórias, fazendo-se história, num verdadeiro intercâmbio culinário!








segunda-feira, agosto 25, 2008

Cuscuz paulista em Lisboa

CUSCUZ PAULISTA EM LISBOA
(em 4 actos)

1º ACTO: O DESAFIO


Num dos “passeios” pelas cozinhas virtuais da blogsfera chegamos ao Intercâmbio Culinário da Ameixa Seca, Nana, Axly e e deparámo-nos com a proposta de troca de receitas entre as cozinheiras do Brasil e Portugal. Que boa ideia! Vamos lá participar!

Primeiro tínhamos que formar um par... radares alerta... e encontrámos a Márcia do Ideias à la Carte com a mesma vontade.
Mails p’ra cá e p’ra lá... fomos consolidando o par... escolhendo as receitas...
que coisa boa!... vamos até sentindo uma certa “sintonia” com uma pessoa que só conhecemos destes espaços virtuais! não deixa de ser surpreendente!

Estava formado o par:




Agora é escolher a receita... o Ideias à la Carte tem tanta coisa boa... o que é que havemos de fazer?

Como sabem, temos passado (e alma) brasileira e por isso queríamos fazer uma receita diferente, daquelas que não fizesse parte das nossas memórias da cozinha da vovó (carioca).

E aí lembramos de um prato que já tínhamos comido no Brasil, mas que nunca tínhamos cozinhado: cuscuz paulista. E para sobremesa?... uhm... deixa ver... aí lembramos de algo que a vovó Nair fazia, sempre pela Páscoa, canjica.

Pronto! Tomada a decisão. Agora... “manda a receita Márcia”... “será fácil?”...
Começamos aqui pelo cuscuz paulista, para manter a “ordem” do serviço: primeiro o prato depois a sobremesa!

2º ACTO: A PREPARAÇÃO

E o que é isso de cuscuz paulista? Conhecemos o cuscuz marroquino (que aqui está postado), conhecemos o cuscuz baiano (também já aqui)... mas paulista?? o que é isso?

Primeiro engano: pensava que era feito com sêmola de trigo (aquelas bolinhas do cuscuz) e... surpresa... era feito com farinha de milho e mandioca!!

cheias de curiosidade fomos à procura e encontramos na “Jangada Brasil” a história do cuscuz e do “paulista”. Ficamos a saber que há várias maneiras de fazer cuscuz... sendo um prato de origem de origem africana (África Setentrional), conhecido do Egipto a Marrocos, era tradicionalmente feito com arroz, farinha de trigo, milheto, sorgo... e passou a ser feito com milho a partir do século XVI, com a irradiação do milho (zea mays). E parece que afinal era prato popular aqui em Portugal que o trouxe do contacto com os povos berberes. E até o cuscuz doce parece que era feito em Coimbra, no Mosteiro de Celas! Inacreditável! E porque deixaram de o fazer???
Também toma várias formas, de carne, de legumes, de peixe, com leite e açúcar... enfim... cada local e cada povo foi fazendo as suas adaptações...

E o “paulista”? Ficamos com a hipótese de Cristiana Couto, do livro “Viagem Gastronómica através do Brasil” (Senac) que a “origem do cuscuz paulista é o farnel (farinha, frango guisado ou feijão e ovos cozidos, amarrados em um guardanapo grande) dos bandeirantes e tropeiros”.



Bom... chega de informação e vamos mas é às compras!
Levamos a Dolly connosco... gosta sempre de um passeio, mas não gostou de ter de ficar à porta!



Os ingredientes a comprar? Seguimos a sugestão da Márcia... (e a indicação da quantidade utilizada) com algumas – pequenas – alterações...



- farinha de milho (3 chávenas de chá) – compramos o que aqui se chama “sêmola de milho”
- farinha de mandioca (1/2 chávena de chá)
- 500 g de camarão médio (compramos congelado)
- cenouras (2)
- azeite (3 colheres de sopa)
- cebola (1 grande)
- tomates (5 maduros)
- salsa (um molho)
- alho (4 dentes)
- palmito (1 lata)
- ovos (3)
- azeitona verde (1 chávenas chá)
- ervilhas (1 lata pequena)
- sal e pimenta q.b.
- cubo de peixe (1)
- sardinha (1 lata, em azeite)
- concentrado de tomate (usamos o de tubinho)


3º ACTO: O COZINHADO

A primeira coisa a fazer foi colocar a receita à mão para ser seguida. Tínhamos a receita da Márcia... mas deparámo-nos com um problema: não tínhamos a cuscuzeira... e a nossa forma de buraco era daquelas que solta o fundo e, por isso, não dava para levar a “banho-maria”!!
O que fazer?! lá voltamos para a net... e percorremos várias receitas... várias sugestões e encontramos algumas que sugeriam um cozimento diferente...
e não é assim que as receitas vão evoluindo? nada de apertos!... é preciso avançar...


e fomos preparando utensílios e ingredientes.

Primeiro descascamos os camarões, levando as cascas e cabeças para ferver com 1 ½ litro de água, temperado com o caldo de peixe (1 cubo), sal e pimenta.
Deixamos ferver por 15 minutos; o camarão foi colocado numa peneira (salpicado com sal) em cima da panela para cozinhar no vapor (retirei logo que ficou rosado).
Coar o líquido e reservar.
Entretanto fui preparando os outros ingredientes:

- limpar as cenouras, cortar em rodelas e lavar a cozer em água temperada com sal (no fim, juntei essa água ao líquido dos camarões)
- as latas abertas e escorridas; retirei a espinha do meio às sardinhas e cortei os palmitos em rodelas (de 1 lata, guardei metade inteiros, para a decoração);
- a cebola e os alhos foram picados miudinhos;
- o tomate também foi cortado (reservei 1 em rodelas, para decoração)
- retiramos o caroço das azeitonas e picamos;
- picamos também a salsa, miudinho (para picar tudo... entrou em função o processador)
- misturamos as farinhas
- cozemos os ovos (picamos 2 grosseiramente e 1 foi cortado às rodelas)

Agora vamos lá fazer o prato... ai que medo!!! será que vai dar certo? ainda vou ter que fazer ovos mexidos para o jantar!!! ainda bem que tenho uns queijinhos dos Açores... e um pão de sementes saboroso...


- refogamos a cebola e os alhos picados em azeite, até ficarem douradinhos;
- acrescentamos o tomate picado e deixamos cozer... (sempre que secava ia juntando um pouco do líquido dos camarões que tinha reservado); temperamos com sal e pimenta; e acrescentamos um pouco do concentrado de tomate;
- depois fomos juntando as farinhas e o líquido, fazendo isso vagarosamente, em fogo baixo, misturando muito bem... e, sempre mexendo, fomos deixando as farinhas cozinhar (rectificar o sal e pimenta)... quase no fim juntamos os outros ingredientes: ervilhas, palmito, salsa picada, ovos, azeitonas, sardinhas, cenoura, os camarões (reservamos de tudo para os enfeites).
Deixamos ficar uma mistura uniforme e ligada... tudo isso foi feito lentamente, para deixar as farinhas cozinhar.

- pronto, rectificar os temperos... um pouquinho de sal... moer mais um pouquinho de pimenta... já está... uhmmmm..... está saboroso...

agora é montar o prato...

untamos a forma com azeite...
colocamos no fundo da forma e nas laterais algumas rodelas de tomate, de ovo, ervilhas, cenouras... criando uma decoração...
colocamos a massa do cuscuz, ajeitando e apertando para ficar homogéneo.


e já está! deixamos esfriar... até à hora do jantar.


4º ACTO: A FESTA

Claro que tínhamos que fazer a festa em conjunto. Todos ficaram sabendo desta nossa aventura! O intercâmbio culinário ficou famoso!
Foram chamados e vieram, a Rica, o Ernesto, a Bibi, a Celeste e o António, a Paula e nós, claro!

a noite estava perfeita... um calor bom e uma lua cheia no céu de Lisboa, encantadora!
O maridão tratou de colocar o vinho branco “Alvarinho” no frigorífico... que a noite prometia!

E fomos desenformar... será que sai?
SAÍU!!! Lindo!!!! máquina fotográfica a postos!!! de todos os ângulos!!!




Vamos lá comer!!!

uhmmmmm...... delicioso!!!

missão cumprida!!! com sucesso!


Obrigado Intercâmbio Culinário pelo desafio! Obrigado Márcia pela sugestão.

escreveu-se mais uma página da história do cuscuz:
cuscuz paulista em Lisboa... em noite de lua cheia... com amigos do coração!

(ah!... é verdade!!! querem saber da canjica??? fica para a próxima!! depois contamos!!!)

domingo, agosto 10, 2008

Intercâmbio Culinário

Esta foi a iniciativa da Ameixa Seca, da Nana e da Axly... para fazermos pares "bloguistas" e trocarmos receitas entre nós.

O nosso par é a



olhem só que lindo!
não ficamos bem juntos?




E a receita da Márcia que escolhemos fazer foi cuscuz paulista. Sempre tivemos curiosidade para de conhecer esse prato... e de saber o porquê do nome.

Será que vai ficar bom???
suspense....
aqui será deixada a história e a receita!

Aguardem...